sexta-feira, 4 de julho de 2008

ASCENDENTE SERPENTE

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Acuado pela noite escura
Um coração apertado temia se dar
Reconhecendo a direção que iria
Ao deixar-se em sentimento
Seguir o fluxo do vento

Sem saber se encontrará alento
Vive em adiamento
Para o sagrado amor alcançar

Duvidas incitam o pensamento
Sem definitiva resposta
Segue fingindo, doendo, detendo

Prende o fluxo
Força comportas
Energia sem rumo entorta
A ascendente serpente que é a rota
À alma que o corpo exorta

Poetizo a fúria da mente
Falsa soberana impotente
Não resistirá ao amor real
Que surgiu na eternidade
Aonde não existe
A posse carnal




TUBO FLUÍDICO

Olho em volta
Vejo o caos
Chego ao meio
Enxergo a ordem

O melhor é ver
A olhos nus
O nu dos olhos
É luz!

Refletido céu
Oceano angelical
Mar de estrelas
Planetas e nebulosas

Negro é o buraco
Escoando à renovação
Nova dimensão

Tubo fluídico
Escorre o fluido universal
Em evolução e revolução
Duplo sentido
Ao eterno destino
Ser

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TRATO COM O ACASO

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Vou fazer um trato com o acaso
Registrarei em meu ventre
O momento propício a unificação

Daquela que quer com a que já tem
Daquela que pergunta com a que sabe a resposta
Daquela que busca com a que já alcançou

Não busco mais motivos para o amor
Se é assim que eu sou
Não importa se falhei
Agora sinto o pleno vapor

Penetra as narinas
Preenche meu peito
Alcança meu ventre
Alimenta minh’alma

Pura no fluidez no sentir
Falar, cantar e dançar
Reverenciar a sábia mulher
Deusa, vida em consciência

Quem eu fui
De onde eu vim?
Entre trevas e lucidez
Eu parei
E encarei o mundo assim
Tudo está dentro de mim

E se agora sinto conflito
Com alguém ao meu lado
É porque aqui dentro
Está apagado

Quero mais do que uma sombra
Eu quero o fato
O ato de envolver-te em longos abraços
De braços alados, em sons ritmados
Se medo ou desmerecimento de amar
E ser amada


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MEDITANDO NA ARTE

Poesias que antes
Em palavras frias
Não embalavam em si
A divina melodia
Nem entoavam ao som do universo

Hoje
Em versos expresso
No inverso
Ao silêncio que cala
Soam movimentos da aura
Novos ritmos internos

Restabeleço a fala
Em cores e sons diversos
Inteira agora declaro
A multidimensionalidade do Ser.

Incandescente
Ouço cantos
Verdades soam nuas
Alcançando a alma pura
A fazendo estremecer

E meditando na arte
Mergulho em todas as faces
Revelo então uma parte
O que sei transparecer

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QUEM FUI

Não quero lembrar quem eu fui
Basta-me saber quem sou
O passado remete-me a uma dor tão profunda
Imobiliza meus atos
Rasga meu peito como um punhal
Remete-me à dor que senti
No exato momento em que travei o ar
Eternizando a compaixão
Ao te ver na culpa

Agora vejo a mesma ignorância
Tentando destruir a lucidez divina
Modifico-me em atos para não ver repetidas cenas
Quero interromper a história de heróis sofridos
Não darei orgulho a nenhuma nação
Não endossarei nenhuma religião
Sequer terei lar ou ditarei caminhos
E se um dia seguirem meus passos
Haverão de tornar belo tudo que for possível
Narrarão suas histórias em poemas
Encontrarão o sentido lúdico da criação
Para vivenciarem a luz suprema
A chama eterna
Que jamais se extinguirá

Cantarão em alegria
Eu sou!
Sentir-se-ão imortais
Com a sensibilidade de uma flor
E ao murcharem na aridez do desamor
Esperarão como eu
O orvalho da noite

É o amor da mãe natureza
Compensando o seu
Que há muito se esqueceu

De uma forma ou de outra
Farei o que me cabe
Lembrarei que há um meio
Para alcançar a verdade
Elevar-se ao tempo
No amor
Em igualdade


O orvalho da noite da noite brilha na luz do luar
Quem acredita em sereia sabe os segredos do mar

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VOLTA AO MUNDO

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Eu não vim aqui para dizer não a nada
Eu não vim aqui para dizer não a ninguém
Eu entendo a inércia que faz viver
Buscando a verdade que satisfaz

É preciso estar atento
À realidade existente
Entre o sim e o não
Entre o feio e o bonito
Entre o rico e o pobre
É preciso ter muita atenção
Para não se sujar com tanta podridão

São presidentes que caem
Outros que sequer levantam
Continuam dando chances
Às ordens do império
Um império que pouco se importa
Nos dão a receita torta
E fazem o gigante adormecer

E eu pergunto:
Isso é mesmo real?
Distraído ninguém se revolta?
Ei, acorda!
Somos mais que campeões
A Terra é uma só nação

Esta mensagem te desperta?
Você sabe e eu sei disto
Mas não é isso e nem aquilo
É o que você captar
Enquanto isso medito
Dou a volta ao mundo
Sem nem sair do lugar

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MUNDO ANIMAL

O patinho feio saiu
Viu-se cisne no espelho e curtiu
Apaixonou-se e nunca mais voltou

Do outro lado do mundo
Um cisne emergiu
No espaço mundano se refletiu
Ignorado amaldiçoado sofreu

Ao meditar percebeu
O espelho do mundo está imundo

O patinho feio e o cisne sou eu
É você a criança o mestre
A cobra o quadro o céu

Quem tem consciência disto ?
Aqueles que querem limpar o espelho do mundo
Quebrar os muros e amar profundo

E ao me ver perdida
Neste caminho te engoli
Oh, lindo pássaro!
Eu já posso voar!
Encontrei em ti um alimento para a dor
Agora sei
A morte em vida cura
É o amor

Agora estamos juntos
Horas sigo por você
Horas segues por mim
Una presença assim
Permite o caminho ao sem fim.

Faço então uma pergunta:
Deus dá asas à cobra?

Ouço logo a sua resposta:
A Deusa dá!

MEDIOCRIDADE

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Parece medíocre
Viver de alegrias do passado
Repetir frágeis realidades
Nos distancia do tempo eterno
Se calo, por compaixão
Sinto a mediocridade contida em mim
E nas comportas da emoção
Liberto-me assim
Observo-me
Por nada negar internamente
Sapiência e idiotice fazem-me inteira
Na convivência entre os opostos
Sinto-me humana
Sobre humana sou
No ato de me observar
Horas perdendo
Outras ganhando
Omitindo ou revelando
A aparência é pura ilusão!

Quando perdi
Cai nas profundezas de mim
Me encontrei
Na euforia ganhando
Perderei outra vez?

Sem me identificar com o vencedor
Nem com o perdedor
Entrego-me a existência
Que me abraça e faz vibrar
Calando verdadeiramente
Os vãos pensamentos
Que julgam, concluem e se repetem

Eu sou vocês
Idiotas homens sábios
Calo no mundo
Conscientemente falando
Para penetrar em corações
Tumultuados de tantos desejos em vão

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ILUSÃO DE ÓTICA?

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Esta imagem que passo
De mim pouco há
Às vezes curvo de cansaço
Sequer saio do lugar
Fico pensando...
Fico pensando em como
Esta realidade transformar

Sei que não existe criança pobre
Não existe criança rica
É pura ilusão que a ótica nos dá

Sabendo fazer mais bonito diferente
Podemos ver como vai ficar
Pega-se a criança pobre
Aparentemente triste e feia
Esconde-se ela lá ?
Ou vamos dar o que comer?
Ela bonita e forte ficará

Ela come amor com o coração
Ela come arte com as mãos
E isso nós temos para dar
Semente essencia da vida ela é
Vamos todos semear

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FÚRIA DA MENTE

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Acuado pela noite escura
O coração apertado temia se dar
Reconhecendo a direção que iria
Ao deixar-se em sentimento
Seguir o fluxo do vento

Sem saber se encontrará alento
Vive em adiamento
Para o sagrado amor alcançar

Dúvidas incitam o pensamento
Sem definitiva resposta
Perde o momento
Segue fingindo, roendo, detendo...

Prende o fluxo
Força compotas
Energia sem rumo entorta
A ascendente serpente que é a rota
À alma que o corpo exorta

Poetizo a fúria da mente
Falsa soberana impotente
Não resistirá ao amor real
Que surgiu na eternidade
Onde não existe a posse carnal

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DEUS ILÍCITO

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Há em mim a virtude da verdade
Vejo Deus em toda parte
E não posso me omitir

Me atraí pelas drogas
Quando quis fugir do mundo
Que expulsou Deus daqui

Mas agora sei
O expulsamos
Apenas para podermos à Deus perseguir
O vestindo de mestres
Mal interpretados
De automóveis do ano
De esperanças e enganos

O vestimos também de virgens mulheres
De doutrinas ultrapassadas
De virtudes estagnadas
Para podermos apreender Deus, enfim

Aprendi a viver assim
Te vesti de Deus
Vesti o verde, o sol e o mar
De Deusa Natureza
E encontrei minha beleza

Agora posso ver Deus em toda parte
Inclusive na droga e no drogado
No menino que é viciado

Oh, Deus ilícito!
Como libertar-me deste mundo
Onde tudo que repito se transforma em vício?

Viciados em Deus
No Deus do perdão
Dele esperarão a salvação
Para viver a vida em libertação?

Santa virtuosidade!
Minha transcendência é pela arte
Devo render-me assim
Para viver inteira e não me dividir

Não omitindo Deus em mim
Ao poder assim discernir
Não me iludir por nenhum par
Ao sentir Deus a me amar
Me fundirei a Deus no silêncio
Para em paz poder me calar

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CONCEBI O NOVO HOMEM

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Concebi o novo homem
Este não é sábio nem ingênuo
Não é grande e nem pequeno
É o Ser a desabrochar

De origem feminina
Não é menino nem menina
É sem fronteira de ser ou estar

Veio para expressar, refletir
E inteira eu poder existir

Alie
Assume meu corpo
Assume minha mente
Diz verdades em repentes
E não se esforça por agradar

Com a pura arte
Nos faz despertar
Viver o momento
Com prazer de amar

Alie é puro
Seu caminho é complexo
Cantarei a sua história
Encontre assim o seu nexo


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ARTE MAGIA

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Na profundidade
Todos aqui são extraterrestres
Fui ao submundo
Emergi só para ver

Bichos da casca da goiaba
Entranham de formas estranhas
Estragando o néctar
A pureza da Terra

De onde a semente brota?
Na ignorância só o fruto importa

Mergulhem em si
Vejam a insensatez
Muitos esqueceram a origem da terra
Um novo início está no fim que te espera
Curto é o caminho sobre a esfera

Vejam como é bela:
Do alto, terra é azul!
Já experimentou a graça de estar nu?
Não o nu artístico
O nu verídico
Alcançando essa sensação
As máscaras não têm como se fixar

Assim pude me observar
Estando nua, sou o luar
Quando das profundezas a vida me eleva
Vejo que o sol cegou
Quem não aprendeu o amor
Desviaram-se da luz eterna
De Deus incandescente

No breve intervalo
Pereceram corações aflitos
Na superfície da loucura
Perdem-se na noite escura

Quando a plena lua brilhar
Sol refletido guiará
Inspirando os poetas
A manterem “a porta” aberta
Trazendo para a noite
A arte magia
Na palavra pura que reflete
A luz de um novo dia

A GRAÇA DE ME RENDER

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Estar aqui sem temer
Saber que amar é o poder
De unir sem possuir
De gostar sem aprovar

É como entregar
Algo que nunca foi meu
Não dá para negar
O que ninguém pertenceu

Toda forma da ilusão
Caminha à consciência
O distante não existe
Na dimensão da essência

Assim caí em mim
E inteira posso me ver
Não há mais separação
Eu sou o outro você

Respiro profundamente
Encontro o êxtase de ser
Sinto o corpo a relaxar
E ser o meu próprio par

O supremo da vida
É aprender a tudo amar
Assim pude perceber
A graça de me render.

BRILHO DA ESTRELA

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Esperei por longos anos
Anos luz, distanciavam-me da estrela
Que, contudo, refletia-me em sua própria luz
Expandindo pelo espaço e além

Viajando pela imensidão
Aprendi a amar na Terra
E ensino hoje
A arte do bem viver

As cores que vejo
Mesclo em pinturas nuas
Libertas dos limites da luz e sombra
Da razão

Os sons que ouço
Componho doces melodias
Traduzo musicalmente as orações

Movimentos soltos em sincronia
É dança cósmica
Alcanço o universo e vejo
O coração
Ritmicamente a pulsar, a pulsar ...
A expandir e expressar

E hoje
Brilho com esta luz

CALADA

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Eu não reflito apenas o belo
Eu reflito a noite escura
A dúvida, o medo, a morte
A loucura...

Ultrapassando as barreiras
Encontradas no caminho
Sigo na legalidade ao eterno
Me observando ser nada
Reflexo...

Como lua brilho assim
Sou deusa criadora
Iluminando a noite
Redentora à sorte
De vidas pagãs

Não há dor que não se experimente
Através de uma alegria
Dualismo de sensações
Disponíveis em simetria

Quando vive-se à revelia
Cria-se uma esperança
Encontrar o caminho
Para que se alcance um dia
O nada

Em comunhão a tudo sou nada
Abro a boca e engulo
Nomes, símbolos e palavras
Faço versos

Eu sou o inverso
Calada.

A RELIGIÃO DO NOVO HOMEM

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Haverá sempre um templo entre os homens
Enquanto não sustentarem em si o estado de oração
Enquanto não inalarem em seus pulmões toda benção divina
E não tratarem todos os semelhantes como uma deidade

Haverá sacerdotes
Enquanto houver o sarcasmo do ateu
A hipocrisia do político
A ganância do egoísmo selvagem

Haverá crenças
Enquanto a mente duvidar
Do curso da existência
Distinguindo entre o bem e o mal
Através da visão limitada
Que não consegue enxergar nada
Além da materialidade

O novo homem
Não é o melhoramento do velho
Mas a sua total aniquilação

Então, abandonem a erudição!
Com o saber despertem corações
Todos ganharão muitas vezes mais

Cantar e dançar para a existência
Eis a religião do novo homem
Que não trata de lapidar o ego
E sim traze-lo de volta
À simplicidade da natureza
Para atender uma única solicitação
SER

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